28/07/2015

Assumir os crespos é ter atitude - Matéria do jornal Viver Bem sobre o nosso blog


O movimento pró-cabelos naturais cresce na internet e ajuda meninas e mulheres a assumirem seus cabelos crespos e cacheados e a se amarem muito mais!

“Demorei mais de 30 anos pra aceitar meu cabelo”, conta Mônica Helena Santos, criadora do blog Soul Cacheada (www.soulcacheada.blogspot.com.br) e da homônima página no Facebook. “Fui criada para acreditar que o cabelo crespo/cacheado era uma anomalia genética. É um preconceito que é passado de geração para geração”, relembra. Como ela, milhares de mulheres com cabelos cacheados passaram boa parte da vida alisando, fazendo escova e processos químicos pra ter um cabelo “bom”, assim mesmo, entre muitas aspas. “Não existe cabelo ruim, e sim, este preconceito enraizado que passa de geração pra geração”, completa Mônica.
O cenário, no entanto, finalmente está mudando! Parte disso se deve ao surgimento de muitos blogs e fóruns de discussão pró-cachos, que não só compartilham dicas cruciais pras mulheres cuidarem de seus cabelos, como também histórias inspiradoras e incentivadoras de quem assumiu os fios naturais e viu sua vida mudar. “Não é só o cabelo que muda”, explica Mônica. “A expressão do rosto muda, a postura… as pessoas que assumem os cachos ficam autoconfiantes! E com autoconfiança você consegue tudo na vida, com a autoestima baixa é uma sucessão de fracassos”.
“O blog e a página Soul Cacheada surgiram em janeiro de 2014, depois que eu decidi entrar na Transição (período de abandono da química até o cabelo ficar totalmente natural). Achei que não seria nada fácil, pois usava química nos cabelos desde 8 anos de idade, e eu queria compartilhar todas as minhas experiências com as pessoas que estavam passando pela mesma situação”, conta.
“Comecei com relatos, fotos, receitas caseiras, truques e experiências com produtos para o cabelo. Hoje também posto fotos e frases para incentivar as meninas que estão passando por este período ou simplesmente querem manter o cabelo cacheado e crespo mais bonito. Abandonando essa ditadura da chapinha, hoje contamos com mais de 4.000 seguidoras. Trocamos experiências, receitas, fotos, etc. O sucesso foi tão grande que resolvi criar o 1º Concurso de Beleza Negra de Contagem e região metropolitana. E um dos requisitos para participar é ter os cabelos dentro da estética afro (sem prancha ou chapinha. Nada de cabelos alisados!)”, comenta.

“POR QUE VOCÊ NÃO ALISA SEU CABELO?”  
Quem tem o cabelo crespo ou anelado com certeza já ouviu esta frase. Eu já ouvi inúmeras vezes! Nossa, que chato! Em casa, no trabalho, na rua… Isso fazia com que minha autoestima fosse lá pra baixo, pois me fazia acreditar que eu não era aceita por causa do meu cabelo.
Nosso país (isso todo mundo já está cansado de saber) é uma mistura de raças e etnias. O cabelo das brasileiras, predominantemente, é o cabelo anelado. Por influência europeia, as mulheres brasileiras criaram um estigma de que cabelo bonito é o cabelo liso.
Aí criou-se a expressão do “cabelo bom”, que cabelo bonito é o cabelo liso e escorrido. Durante anos e anos, nós, mulheres negras sofremos para deixar os cabelos como nos padrões de beleza estipulados. Pastas para alisar, ferros quentes, produtos agressivos ao couro cabeludo e com cheiros nada agradáveis. Eu mesma fui vítima desses produtos. Quando adolescente, fui ao salão alisar os cabelos e acabei ficando careca de um lado da cabeça, pois meu cabelo caiu todo com toda essa agressividade.
Com o passar do tempo a qualidade dos produtos melhorou, tornando menos agressivos. Os apetrechos usados ficaram mais modernos e alisar os cabelos não ficou tão traumatizante como há 10 anos.
E depois disso, você vê que não vale tanto à pena sacrificar seu cabelo só para agradar meia dúzia de pessoas. O cabelo vai ficando fraco e feio de tanta agressividade. E finalmente, quando você quer dar um basta nesta prisão, vem alguém e te pergunta: “Por que você não alisa?”. Como se fosse uma obrigação você ter o cabelo liso. Aí eu respondo: “Porque eu gosto dele do jeito que ele é!”
E não é fácil manter esta afirmação! Quando você vai trabalhar, passear ou está em família, tem a sensação que todos te observam, te olham diferente. Parentes te dando dicas de salões que são “ótimos” para fazer escova, colegas de trabalho que te indicam cremes “milagrosos” para alisar, entre outros comentários. Tem que levar no bom humor para não acabar brigando! Mas, não tem problema, eu gosto de chamar atenção!
Quero meu cabelo livre, que eu possa molhar nos dias quentes, que não me impeça de namorar na chuva, que chame a atenção pelo volume…Isso me faz sentir bem, sentir leve…Ter cabelos cacheados é ter liberdade…
Mônica Helena Santos

O GRANDE CORTE OU TRANSIÇÃO
Quando se toma a decisão de parar com a química há duas possibilidades. A transição ou o Big Chop (grande corte). Ambos têm seus prós e contras, mas depois é só alegria.
“Quando parei de usar a química, meu cabelo ficou muito indefinido”, conta Mônica. “Durante o processo eu fui aprendendo truques, como o cronograma capilar e descobrindo produtos, processos e receitas caseiras para ajudar a melhorar. Mas, vou avisando: a transição exige muita paciência”, desabafa.
A transição é o momento em que você para com todas as químicas e vai tratando seu cabelo enquanto ele cresce. Uma das técnicas utilizadas pelas garotas é a do cronograma capilar, em que elas alternam produtos de reconstrução, hidratação e nutrição nas lavagens, pra ajudar no processo de recuperação do cabelo. “É como se fosse uma agenda pra você cuidar do cabelo, e em cada semana você realiza uma “atividade” para cuidar dos cachos. Por exemplo, numa semana você faz três hidratações e uma nutrição, na segunda você faz duas hidratações e uma reconstrução, alternando os dias sempre e de acordo com a necessidade do seu fio”, explica Mônica.
“O momento mais difícil é quando você está com aquela raiz enorme, sem coragem de cortar e as pontas estão detonadas. Dá vontade de largar tudo”, conta Mônica. “O que me ajudou foi ir trabalhando esse desapego pra ir cortando conforme eu me sentisse bem, e ir texturizando pra já começar a me adaptar”, dá a dica.
Já o Big Chop é quando elas cortam, de uma vez, todo o cabelo com química”. Nesse processo, o cabelo muda bastante, modifica a forma, a textura… É muito interessante ver como o seu cacho é de verdade!”, conta.

SEM DITADURA
Mas não pense que os cachos são todos iguais ou que você vai ter o cabelo exatamente igual ao da sua cantora ou blogger preferida! “Não adianta sair da ditadura da chapinha pra entrar na ditadura do cacho perfeito”, alerta Mônica. “Cada cabelo é único e especial e lutar contra suas características próprias é perda de tempo”, comenta.
“Ame o seu cabelo do jeitinho que ele é e aprecie todos os momentos do processo de transição, do curtinho ao cabelão, pois cada momento tem o seu charme, e a aceitação derruba todo e qualquer comentário pejorativo a respeito de você ou do seu cabelo! Você se sente mais forte pra enfrentar a sociedade preconceituosa e cheia de padrões, e o seu papel passa a ser o de desconstrutora desses padrões”, incentiva ela.

POR QUE CABELOS CACHEADOS?
Antes de responder esta pergunta, pense bem na resposta dessa: Por que cabelo liso?
Você foi contemplada com um cabelo cacheado ou crespo e quer modificá-lo por quais razões? Aceitar e gostar do que você tem e não desejar o cabelo dos outros faz com que você se sinta bem. Gostar de você e valorizar como você é faz bem pra você mesma.
Além do mais, ao alisar seu cabelo, você está mexendo na estrutura inicial do seu cabelo. Isso vai fazer com que ele se modifique. Dependendo do processo, ele não voltará mais ao que era antes.
Então, por que cabelo cacheado? Porque cabelo cacheado é natural. É lindo! Valorize o que você tem e viva feliz!

O jornal Bem Viver é da cidade de Betim, Minas Gerais
Veja a matéria completa aqui http://www.jornalviverbemsaude.com.br/assumir-os-crespos-e-ter-atitude/

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